
Durante uma expedição, um homem viajava com seu aprendiz por Felucca, lhe mostrando cada ponto do mapa, ensinando técnicas e o treinando para futuros duelos a cada floresta densa que passavam. Saíram da cidade do ouro, famosa por suas lojas e muambeiros, a cidade de Trinsic, com o objetivo final a cidade de Minoc, onde o homem se encontraria com alguns amigos da velha guarda. Seguindo a estrada, durante todo o caminho, eram surpreendidos por terremotos, às vezes mais fortes, às vezes quase imperceptíveis. Chegando à cidade final do destino, o homem foi até o vendedor mais próximo ao banco, comprou alguns pedaços de frango para o jovem e uma garrafa de bebida, aconchegando-se à mesa central da cidade.
— Você percebeu, né? Os tremores em todos os lugares que passamos? — Pergunta o jovem enquanto é servido os itens à mesa.
— Sim, percebi… Creio que o pior está por vir, devemos nos preparar, pois os dias de terror podem estar próximos — responde o homem enquanto se sentava e trazia a garrafa para perto de si.
O jovem franze a testa e junta as sobrancelhas como que não entendendo, olha para o lado imaginando, tentando entender, se questionando sobre o que acabara de ouvir… O homem, percebendo a situação, toma um gole de sua garrafa, “se acomode que lá vem história, jovem” dizia ele enquanto endireitava a coluna na cadeira.
— Antes… Antes destas épocas vividas, antes mesmo que o passado, onde nenhum homem eis de pisar, Sosaria era terra, apenas chão onde nada existia, até que Aniduum, com todo seu poder e inspiração começa a dar vida à esta terra, fazendo com que passasse a existir algo que pudesse ser chamado de paisagem, surgindo assim oceanos, montanhas, árvores e plantas. Após um tempo, Aniduum se sentiu solitário, dividiu seu poder e fazendo-se em dois, criando um ser como ele, o grande Nobleheart, considerando-o como irmão. Como voto de confiança, Aniduum proveu Nobleheart com o maior dos bens que um ser pode possuir, o livre arbítrio. Porém, dotado de ciúme dos pequenos seres criados por Aniduum, os humanos, onde o mesmo voltara toda sua atenção, Nobleheart não mais gerava florestas e campos verdes, seu poder era o causador do surgimento de crateras que permitiam as rochas líquidas do centro de Sosaria chegar a superfície, enormes cavernas mofadas e escuras passaram a servir de moradia para novos animais grotescos e bizarros, dentre elas o pouco conhecido Abismo, uma enorme masmorra vulcânica, situada ao extremo sul da ilha guardada pelo Avatar. Para chegar até ela, se faz necessário passar pelo Submundo, residência de numerosos grupos de astutos duendes e monstros subterrâneos, como já vistos também em solo, onde viviam em harmonia, adentro daquelas “cidades” cavernosas.
Um lugar de perigo desesperado, o Abismo era o objetivo final dos peregrinos que procuravam se tornar Avatar, sendo assim, só poderia ser acessado e conquistado por aqueles que já haviam atingido parcial “avataridade” nos caminhos das virtudes, que os serviriam para proteger aqueles que ousassem aventurar-se em suas entranhas.
Um lugar de perigo desesperado, o Abismo era o objetivo final dos peregrinos que procuravam se tornar Avatar, sendo assim, só poderia ser acessado e conquistado por aqueles que já haviam atingido parcial “avataridade” nos caminhos das virtudes, que os serviriam para proteger aqueles que ousassem aventurar-se em suas entranhas.
— Pois, Avatar? — Pergunta o jovem entusiasmado com a história enquanto devora o alimento sobre a mesa… O homem prossegue…
— Exatamente, quando Lord British proclamou as Oito Virtudes Sagradas como essência da vida dos Britannianos, procurou um Campeão. O viajante, conhecido como o “Estranho salvador de Sosaria”, ao retornar para Britannia, explorou todos os pontos da terra, desde seus benefícios, até seus malefícios. Nessa jornada evolutiva, passou a ter a capacidade de possuir as Virtudes, sendo assim defensor do povo e da terra, consagrado como um homem puro. Foi encontrado o Campeão, o denominado Avatar, um exemplo brilhante, busca uma nova visão de vida, onde as pessoas se dediquem e se esforcem a serem puras como ele, guiando um caminho fora das trevas. Somente sua aparição livrou Sosaria de uma iminente destruição. De onde ele veio ninguém sabe, mas sua força e coragem não tinham comparação, provando ser o salvador, estilhaçando a Gema da Imortalidade e derrotando Mondain.
— De Mondain me recordo, o senhor já me contastes em outras histórias. Mas não entendi o que esse Abismo tem em relação à Gema — resmunga o jovem impaciente enquanto seu mestre dá uma risada de canto e continua…
— Pois bem, meu pupilo… Este lugar aparentemente ficará adormecido por anos, mas, com a destruição da Gema da imortalidade, não só seus estilhaços foram jogados pelo mundo, mas também, um mal imenso havia sido libertado e junto a ele, uma criatura não mundana, vivendo a base das trevas… Apenas um lugar era capaz de contê-lo, o covil nas profundezas do Abismo, distante até mesmo de outras criaturas ferozes. Lá foi mantido, em seu eterno abrigo, denominado como o demônio do abismo, zelando seu triunfo da virtude sobre o mal. O Abyssal, um gigante de pele rochosa, era ganancioso, egocêntrico e malévolo, possuído de considerável proeza mágica e o dom da comunicação telepática, considerado o oposto e rival do Avatar. Durante anos reteve consistentemente qualquer ataque direto ao herói, talvez sabendo que tais ataques seriam fúteis contra um ser que já fez parte dele. Abyssal era a concentração de toda energia negativa do Avatar, a personificação de todo o mal que o herói já teve dentro de si.
— Incrível, mestre, como o senhor sabe de tudo isso? — Pergunta o rapaz.
— Meu jovem, você é novo. Eu, desde que tinha sua idade, andava por todos os cantos deste mundo, conheci todo tipo de pessoa, assim, ouvi todo tipo de coisa — Responde o homem, pegando sua garrafa para mais um gole.
— Continue, por favor! O que mais havia neste tal Abismo? — Suplica o jovem. O homem segue a história, vendo hipnotizado com a mesma:
— Recorda sobre o Submundo? Já citado local de moradia de duendes. Pouco mais a fundo ficavam as ruinas do abismo, lá era lugar perfeito para os experimentos de Tyball e Garamon, dois grandiosíssimos magos, irmãos de sangue, no qual a especialidade de ambos seria viajar entre dimensões, a incrível habilidade de abrir portais entre todos os mundos, até mesmo entre facetas… Até que um dia, em uma mistura de seus portais, saiu um ser grotesco, como uma junção de várias dimensões, sendo comparado até mesmo com o demônio que residia mais fundo que aquele local. Os irmãos vendo o erro cometido, tentaram encontrar formas de mandar aquele ser para a dimensão de onde viera… Mas, sem saberem ao certo onde aquilo surgiu, demoraram a executar ou até mesmo pensar em algum plano. A criatura, de grande inteligência, persuadiu Tyball com seu poder psíquico, entrando em seus pensamentos e o fazendo acreditar que, com uma oferenda aquele monstro voltaria de onde viera, fazendo com que Tyball, então, empunhando uma adaga desferisse um golpe no peito de seu próprio irmão, em frente a criatura. Garamon, percebendo a situação que se encontrava, repleto de ódio, puxa fundo seus últimos suspiros antes da morte, reunindo todas as suas forças em seu último feitiço… Sua mão esquerda, estendeu em direção a seu irmão “Usastes de mim para dar a esta besta, agora ficará ao lado da maior de todas, em merecimento à traição com um de mesmo sangue” mandando-o diretamente ao covil do demônio Abyssal, onde os que lá entram, jamais saem. Sua mão direita apontou até aquela enorme criatura, enquanto ambos se olhavam profundamente “Vossa criatura, com o mesmo poder que lhe trouxe, aprisioná-lo-ei aqui. Diga-me ser maligno, diga o seu nome para que eu vá carregando o vulgo de quem fez-me partir”. Olho a olho, Garamon sentiu a alma daquela criatura, e, dentro de si ouviu uma voz, que estremecia todos os ossos de seu corpo “Slasher, humano, Slasher of Veils”, instantaneamente um feixe de luz nasce dali, envolvendo a criatura. O local continha uma marcação de Garamon, onde ali a besta ficaria selada para toda eternidade, levando a vida e alma de Garam…
—OOOOHOHOU… Veja só se não é ele, este é nosso novo explorador? — Grita um senhor, interrompendo a história.
—Como estás, meu consagrado? Sim, é o próprio — diz o homem estendendo-se por cima da mesa e batendo no ombro do jovem e prossegue — Vamos adiar as apresentações, o senhor chegou no momento certo, estava contando a ele a história por trás dos boatos que estão à tona… Agora que está aqui, conte-nos o que ficaras sabendo em sua viagem.
—Sente-se senhor, como explorador peço para que alimente meu conhecimento com sua sabedoria… Por favor, continue esta história — diz o jovem puxando o acento para que o senhor se aconchegue. Sendo assim o velho começa a falar:
— Meus caros, resumidamente, em nossas viagens, um de nossos exploradores decidiu ir em busca daquele abismo, pegando seu barco até a ilha do Avatar e se aventurando pelas cavernas ao sul da mesma. O garoto era tão ligeiro que evitava qualquer combate, desviando de magias e ataques que os monstros desferiam a ele, e, foi assim que ele chegou ao Submundo, conhecendo a cidade dos duendes, que por sinal não estavam nada pacíficos e andou até encontrar a entrada do Abismo. Aí, amigos, vem a parte que interessa, na boca de uma caverna havia um ser de aura incrível, parecia um fantasma de um homem com a mais forte armadura. Nosso menino ao ver que não corria perigo ali, tentou conversar com o ser:
Explorador: Com licença, quem é você?
Ser desconhecido: Olá, garoto. Sou o Guardião da chave.
Explorador: Pois, sou um explorador… Por favor não se incomode com minhas perguntas, mas… O que você está fazendo aqui?
Guardião: Responderei todas as suas dúvidas, pequeno… Fui enviado aqui pelos Seraphs, a fim de proteger o covil do demônio, na verdade, proteger aquele que vem até aqui sem a capacidade de derrotá-lo. Pois muitos que vieram tiveram suas vidas ceifadas sem ao menos saber que, quem adentra aquele covil, é incapaz de sair sem derrotar o Abyssal.
Explorador: Entendo. Mas como isso funciona? Como sei que sou capaz?
Guardião: Veja, homenzinho, onde estamos existem dois altares, onde, em cada um é possível encontrar-se com uma criatura específica e divina, traga-me uma parte do corpo de cada uma dessas criaturas. Se conseguir, provará ser forte e digno da chave, mas na porta do covil, apenas força não será o suficiente… Você precisa ser puro de coração e alma, portador da verdade, repleto de amor e cheio de coragem. Amálgama.
Explorador: Não sou entendedor de magias, como ativarei esses altares?
Guardião: Nem o mais forte dos magos conseguirá ativá-los, para isso você deverá procurar por Sutek, o mago que mora aqui… Por estar aqui há anos, saberá lhe informar, porém não o estranhe, muitos que o encontraram disseram que Sutek é biruta por não conseguirem o compreender. Mas lembre-se, jovem, aqui vive uma besta de força quase igualável ao Abyssal, ele poderá arruinar seus planos…
— Então não são apenas boatos, é tudo verdade o que me contara mestre — diz o jovem levantando-se da mesa.
— Aparentemente sim, meu jovem… E creio que não seja apenas isso, assim que soube do ocorrido, pedi para que meu amigo fosse averiguar — responde o homem, empurrando a garrafa de bebida para perto do velho, que dá um gole e continua:
— Sabendo que não conseguiria realizar essa missão sozinho, o explorador voltou até mim, contando tudo que acontecera em sua busca. Logo viajamos à Moonglow, para encontrar com os epígonos da linhagem dos Mesiac, nos quais eram grandes estudiosos e já estavam cientes de tudo o que estava acontecendo até então, porém, havia algo que não sabíamos… O mais novo da família Mesiac, atual prodígio, estudara os terremotos que estavam acontecendo, captou todas as vibrações durante as semanas, junto a relatos de moradores dizendo que monstros apareciam repentinamente em lugares que até então seriam seguros, até chegar à conclusão que “isto não é coisa da terra, não é coisa de homem, isto é magia e das mais fortes, ligadas a estas aparições… Parece que Tyball está furioso”, disse o menino Mesiac. Retomando a história, Tyball estava preso com Abyssal e segundo o que o prodígio disse, aparentemente os confinados estariam lutando pelo local ou pela fuga dele, refletindo o poder do mago para fora dali.
— Agora faz sentido o porquê dos terremotos, mas por qual motivo meu mestre temeria os dias de terror? — Pergunta o menino e prontamente o senhor responde:
— Jovem, se criaturas malignas estão subindo sob as cidades, o pior dos males poderá subir também, já que Slasher está selado com uma magia de Garamon, portador do mesmo sangue de Tyball e ambos são conhecidos pelos seus rasgos nos véus entre os mundos, entende? Meus homens já avistaram em várias cidades viajantes vindo de Reportunus, hoje conhecida como Vesper, moradia dos mais brilhantes alquimistas. Disseram que esses “bruxos”, por assim dizer, querem alguma parte de Slasher, pois acreditam criar uma poção de poderes telepáticos, mas eles sabem que não são fortes o suficiente para derrotar esta criatura, então procuram guerreiros para ajudá-los, e, se estão o procurando por essas bandas, é só mais um sinal de que coisas ruins estão por vir.
— Vamos explorar, mestre! — diz o jovem fechando o punho e enrijecendo seu braço. O homem, sem saber o que os esperam, mas sentindo uma imensa confiança vindo daquele rapaz, olha para ele e diz:
— Há mais uma coisa que precisa saber, jovem, uma coisa que talvez nos ajude imensamente nessa jornada… Lembra-se de Anidiuum, criador de todas as coisas no qual havia lhe falado? Pois, houve uma época na qual ele precisara reestabelecer a ordem em Sosaria e assim gerou três entidades: uma responsável pelos oceanos e suas criaturas; outra pelos que habitam a terra e nela caminham, também as que voam sobre ela; e uma terceira entidade que daria julgamento e destino às almas dos pobres seres que perdiam suas vidas todos os dias em confrontos sem sentido. Os três são respectivamente Poseidon, Zeus e Hades. Meikai, mais conhecido como Hades, tem o poder de manipular livremente a vida e a morte de qualquer ser inferior a um semi-deus. Apesar de sua fama de austero e impiedoso, insensível a preces ou sacrifícios, intimidativo e distante, Hades é um amante da vida do planeta e das criaturas que nele habitam possuindo um grande respeito por elas e algumas vezes até mesmo atendendo a seus pedidos de forma piedosa. Sendo assim, precisamos encontrar com o Ceifador, o ser que serve e representa a entidade Meikai, pois é impossível para humanos como nós, irmos até o grande Hades. Há um artefato capaz de transcender as almas livremente para dentro e fora de seus corpos e proteger a alma e o corpo de seu usuário, este artefato foi feito por Hades e alguns de seus discípulos diretos o carregam ou têm do seu poder, sendo assim podemos pegar a alma do demônio. A esta altura, Hades há de entender que o que aconteceu entre os irmãos foi maldade da criatura sumonada, de certa forma Tyball está preso injustamente… Talvez com a alma da criatura como sacrifício, Tyball seja liberto e mandado ao mundo dos mortos, onde de certo deveria estar, não mais preso neste plano, permitindo que o demônio aproveite sua solidão em seu covil, o que nunca deveria ter sido mudado.